terça-feira, 19 de julho de 2011

Nós Estamos Mortos

Hoje acordei lendo um atestado de óbito. Sem nome, sem foto, sem causa. Apenas o óbito. Perguntei-me secretamente o que seria aquilo e se tal indivíduo estava morto, por que seu nome não constava ali.
- "Indigente" disse uma voz ao meu lado.
Levantei o olhar procurando o locutor da resposta, porém não o reconheci e voltei meu olhar para a folha em minhas mãos. Engraçado como essas coisas de morte podem ser intrigantes. Pessoas morrem todos os dias, algumas sem motivo aparente, outras por motivos terríveis e outros que nem deviam morrer. Comparo tais situações aos relacionamentos amorosos. Os que começam, começam como a vida e quando terminam, parecem a morte; um com cada motivo diferente. 
Eu não deveria estar aqui, ou pelo menos acho que não. Talvez deveria estar tomando uns shots com pessoas suficientes diferentes de mim ou dançando um chá-chá-chá sozinha na minha sala. 
Segue então uma epifania e percebo que tal laudo em minhas mãos é meu. E percebo também que a causa da morte é assassinato.
- "Assassinato, como assim?" questionei-me baixo pelo canto da boca.
- "Eu te assassinei", a voz novamente me responde. "Matei o seu amor" ele continua "E fazendo isso, também matei todas as esperanças do meu".
A lágrima quente caiu sobre o papel após percorrer suavemente o meu rosto.
- "E por que fez isso?" minha voz saiu embargada longe de ser proposital.
- "Ora, porque eu sou Indigente, não sei o que sou, quem sou, o que quero. Assassinei nós dois pois acho que separados valemos mais".
Levantei carismática da cama em que me deitara, o mundo girou e eu ainda sem entender nada estava aérea. Esperava que alguém me acordasse de verdade e dissesse que era mais uma brincadeira boba da Morte que nos faz sonhar coisas para que tenhamos mais amor a vida. Mas ninguém veio.
Tentei então segurar a mão do Indigente como se quisesse desesperadamente minha vida e meu amor de volta e também de alguma forma mudar aquela conversa sem sentido.
- "Nós iremos voltar?" perguntei com o pouco de esperança que me restava e então após respirar fundo o meu apreciado Indigente respondeu:
- "Não querida. Nós estamos mortos".

Os Novos Baianos - Mistério do Planeta

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